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Reflexo Turvo
Alexandre Lima
Sou mais do que vejo,
Sou ainda mais do que me vêem.
Sou um reflexo turvo da realidade que é existir.
É pela lente do olhar do outro
Que minha imagem se constrói.
Piscou? Passou! Sou outro novamente.
(Alexandre Lima – 16/05/2012 – 00:55)
Vivemos num espelho. Dentro de um espelho. O que vemos, vemos com nossos olhos.
"São seus olhos", diz a sabedoria popular. Mas se vemos com nossos olhos, vemo-
nos mais a nós mesmos do que ao outro. Nosso narcisismo é inexorável. Estamos
presos à nossa imagem. O espelho é um disfarce. Tire-se o espelho e, ato contínuo,
nos iludimos, pois pensamos que já agora não estamos mais diante de nossa imagem.
Puro engano. Estamos irremediavelmente presos à nossa imagem. O espelho de vidro
apenas evidencia essa prisão e por isso é embaraçoso para os mais sensíveis. É que
esses, ao mirarem-se, se darão conta desse claustro com mais evidência, ainda que
através de um pequeno sentimento de incômodo ou estranheza. Paradoxalmente, no
entanto, é o espelho também que nos apontará a necessidade de libertação, inerente
à sensação aprisionante. Mais um dos tantos fenômenos que nos contam da grande
valia do desprendimento de nós mesmos, da transcendência que intuímos, conforme
avançamos na dissolução de nosso narcisismo, fenômeno tão conhecido há séculos
pelos grandes pensadores.
Luciano Marcondes Godoy
Olhar da Gare do Oriente para a entrada principal do Centro Comercial Vasco da Gama no Parque das Nações.
Lisboa, 19 de fevereiro de 2017