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PELO BURACO DA FECHADURA
Rogério Martins Simões
Fui sempre um miúdo curioso e por ser assim, bem cedo me apercebi das dificuldades por que passavam os meus pais e todos os outros que vieram trabalhar para Lisboa e arredores. Essa massa trabalhadora, operária, levantava-se muito cedo e rapidamente corriam para apanhar o elétrico “do operário” e bilhete de ida e volta, o operário e assim poupavam uns tostões.
Nasci em 1949, e desde os anos 60 do século passado fazia parte dos “putos” que se juntavam à entrada do Panteão Real da Casa de Bragança e posteriormente, numa visita mais abrangente, à entrada do antigo Convento de São Vicente de Fora.
Por ordem de chegada cada rapaz acompanha e explicava aos turistas o que iam encontrando nesses locais nomeadamente: a Portaria Conventual, a Sacristia, o Panteão dos Patriarcas, a Sala dos meninos de Palhavã. Éramos os Cicerones desse tempo e ao mesmo tempo ganhávamos o que os turistas nos davam. Mas havia sempre um tempo dedicado à descoberta e tanto o Mosteiro, como a Igreja, muito tinham para contar.
A curiosidade era tanta que sabíamos e conhecíamos todos os cantos da igreja. De fora do meu conhecimento ficou a sala do antigo relógio, e o Real Relógio que passou à reforma.
O relógio moderno tocava de hora a hora, as horas de cada dia. Ah ao meio-dia e à meia-noite tocava também Ave Marias.
Os anos passaram e um dia já na minha qualidade de turista, ao subir os últimos degraus que ligam à torre da Igreja reparei que a porta do relógio continuava fechada onde a novidade externa era a subtração da fechadura e a porta cerrada a prego.
Não resisti e com a máquina fotográfica espreitei pelo buraco um pouco mais alargado por falta da fechadura.
Foi assim que completei no tempo o conhecimento total dos cantos e encantos do Mosteiro e da Igreja de S. Vicente de Fora.
A prova fica aqui pelo buraco da fechadura…
Meco,12 de Novembro de 2022