descrição
Chama pelo silêncio como a si mesmo; recebe, em troca, um som discreto, espécie de pauta de recordações, pauta viva, memória melódica, quase indiferente aos ossos enferrujados de tantas estações.
Sabe, todavia, que a voz é a única arma contra o esquecimento, e mesmo na afonia do instante, recorda imagens de estrelas femininas e o ciclo das borboletas, e tudo isto tão nitidamente, tão absurdamente que toda a respiração lhe dói enquanto cavalga o cio, deixando o corpo entreaberto para aquele rosto feminino, a máquina do sexo e a lâmina de tudo o que, perdido, talvez ainda regresse. Por isso caminha e, mesmo cansado, recusa-se a adormecer…