descrição
cais de embarque
Estação Ferroviária do Rossio
Lisboa
Perder um comboio, no Rossio, é fixá-lo a deslizar lentamente até se perder na escuridão do túnel... Fica-se de repente só, no cais, debaixo do teto imponente mas austero, que não serve de casa para ninguém. Gela-se por fora, mais ainda por dentro.
No último comboio, entrada a madrugada, já se pode escolher a carruagem, reduziu-se a multidão...
Uns virão de escolas noturnas, outros de espetáculos, a maioria de trabalho por turnos: cozinhas, chãos lavados, portarias, vigilâncias.
Sentam-se uns e outros, e outros e outros... Um grupo animado queima os últimos cartuchos da juventude, joga-se no smartphone, organizam-se folhas, telefona-se sem ocultar privacidade, já ninguém lê a esta hora..., um ou outro faz um aceno ou um sorriso antes de se sentar ao nosso lado - puros desconhecidos que seguirão em viagem, lado a lado, em silêncio desconjunto, até ao destino que a cada um lhe cabe. A maioria, essa, a dos que já entraram descoloridos de cansaço, reclina a cabeça no assento e fecha os olhos, em mergulho num oásis de minutos, talvez a única folga até ao próximo comboio.