foto user
julia
nav-left nav-right
menu-mobile
Olhares
menu-mobile-right
Carregar
Outros/'homo silvester........
fullscreen voltar lista nav-leftnav-right
Outros/'homo silvester........
voltar lista nav-leftnav-right

'homo silvester........

fotografias > 

Outros

2019-12-02 19:56:18
comentários (27) galardões descrição exif favorita de (61)
descrição
sta cruz 6/2018 (humano desconhecido)


certo dia, ao regressar de longínqua existência de papel, quis incendiar a camisa da criança que fora, mas, na comissura dos lábios ressuscitou a luminescente abelha de uma lágrima. comoveu-se, quando a criança, assustada, lhe perguntou:
- em que idade do coração se apaga o riso dos homens?
regressava de um corpo onde já nada estremecia. regressava do fundo de uma terra vislumbrada para lá do tempo em que pisaremos a serena memória dos nossos mortos. terra seca, ardente, onde no vítreo centro dos cardos irrompe o ouro da geada. e dos homens memória nenhuma sedimentara no fundo de si.
trouxera consigo o zumbido dos ventos, e nos dedos enrolara as letras do seu nome cortado ao meio. trouxera o canto derradeiro duma ave sobre o cabelo atado num fio de seiva. e no rosto, iluminava-se-lhe a alva água do olhar dos cegos…
… o tempo lavara as dunas e as feridas do corpo, e quando a fala errante dos pastores coalhou no veneno dos escorpiões, ele viu: serpentes de bocas floridas, cães selvagens caminhando na poeira do sono, rostos espreitando à porta das antigas crenças. e a noite, a infindável noite, guardava agora os passos daquele que regressava eternamente ao poço da infância – esse círculo de treva onde ele mergulhava a cabeça, esquecido da sua própria morte.
contou, depois, como gastara o corpo na construção dos dias, e como erguera a paisagem da última morada.
foi surpreendido pela morte dos outros, mas conseguiu manter de pé a sua débil arquitectura de ossos; como uma coluna de templo abandonado à fúria dos ventos, entre o deserto e a abóbada da infinita noite… e hoje, quem passar à porta dos seus livros, vê-lo-á sentado, as mãos sulcadas de caminhos, como um mapa, pousadas sobre os joelhos. o rosto envolto por uma juba de luz….

al berto
‘o medo’
«livro décimo segundo 1989 – o livro dos regressos - (homo silvester)»
(paginas. s/n.º – ed. assírio & alvim)

ao som de «nick cave and the bad seeds – ‘hollywood’» ( ghosteen )

https://www.youtube.com/watch?v=MfDx09Ko8G4

exif / informação técnica
Máquina: Canon
Modelo: Canon EOS 600D
Exposição: 1/250 sec
Exposição (EV+/-): 0 step
Abertura: f/8
ISO: 100
Dist.Focal: 55mm
Dist.Focal (35mm):
Software: PaintShop Pro 21,00





















favorita de 61
galardões
  • galardão popular
    foto
    popular
  • galardão curador
    curador
  • galardão curador
    curador
julia

julia

olhares.com/loengo
a cidade será sempre benguela......,
'homo silvester........
sta cruz 6/2018 (humano desconhecido)


certo dia, ao regressar de longínqua existência de papel, quis incendiar a camisa da criança que fora, mas, na comissura dos lábios ressuscitou a luminescente abelha de uma lágrima. comoveu-se, quando a criança, assustada, lhe perguntou:
- em que idade do coração se apaga o riso dos homens?
regressava de um corpo onde já nada estremecia. regressava do fundo de uma terra vislumbrada para lá do tempo em que pisaremos a serena memória dos nossos mortos. terra seca, ardente, onde no vítreo centro dos cardos irrompe o ouro da geada. e dos homens memória nenhuma sedimentara no fundo de si.
trouxera consigo o zumbido dos ventos, e nos dedos enrolara as letras do seu nome cortado ao meio. trouxera o canto derradeiro duma ave sobre o cabelo atado num fio de seiva. e no rosto, iluminava-se-lhe a alva água do olhar dos cegos…
… o tempo lavara as dunas e as feridas do corpo, e quando a fala errante dos pastores coalhou no veneno dos escorpiões, ele viu: serpentes de bocas floridas, cães selvagens caminhando na poeira do sono, rostos espreitando à porta das antigas crenças. e a noite, a infindável noite, guardava agora os passos daquele que regressava eternamente ao poço da infância – esse círculo de treva onde ele mergulhava a cabeça, esquecido da sua própria morte.
contou, depois, como gastara o corpo na construção dos dias, e como erguera a paisagem da última morada.
foi surpreendido pela morte dos outros, mas conseguiu manter de pé a sua débil arquitectura de ossos; como uma coluna de templo abandonado à fúria dos ventos, entre o deserto e a abóbada da infinita noite… e hoje, quem passar à porta dos seus livros, vê-lo-á sentado, as mãos sulcadas de caminhos, como um mapa, pousadas sobre os joelhos. o rosto envolto por uma juba de luz….

al berto
‘o medo’
«livro décimo segundo 1989 – o livro dos regressos - (homo silvester)»
(paginas. s/n.º – ed. assírio & alvim)

ao som de «nick cave and the bad seeds – ‘hollywood’» ( ghosteen )

https://www.youtube.com/watch?v=MfDx09Ko8G4

Tag’s: sta cruz,júlia,p&b,...
comentários
foto autor

julia

olhares.com/loengo
a cidade será sempre benguela......,
galardões
  • galardão popular
    foto
    popular
  • galardão curador
    curador

julia

julia

olhares.com/loengo
a cidade será sempre benguela......,
Máquina: Canon
Modelo: Canon EOS 600D
Exposição: 1/250 sec
Exposição (EV+/-): 0 step
Abertura: f/8
ISO: 100
Dist.Focal: 55mm
Dist.Focal (35mm):
Software: PaintShop Pro 21,00






















julia

julia

olhares.com/loengo
a cidade será sempre benguela......,
favorita de (61)