descrição
Quantas vezes a morte nos escorreu já pelos dedos? Fica imóvel, imperturbável, a olhar para as mãos como se em cada linha adormecesse o tempo. As mãos pressentem tudo, até a leveza do lume que risca o fósforo em contagem decrescente e já nem o guarda-chuva vermelho evita os estilhaços do corpo onde uma qualquer veia rebenta a cada instante.
Quantas vezes a morte nos escorreu já pelos dedos? Tem cara feia, mau hálito e não toma banho. Falta-lhe ser Homem, aguçar o sexo, gastar a saliva na boca da primavera e em cada um dos seus segredos... é quase um poeta, a morte, um semi-homem, uma ave nómada à procura da rota e de si mesma. E enquanto não chega, a loucura é a única certeza dos amantes e o amor a derradeira mentira dos poetas.