descrição
Fim de tarde invisível, uma talvez miragem que não distingue o lodo da terra. Um vento a agitar os sentidos sem deixar rasto enquanto nomes sem referente boiam, anónimos, na espera.
Entre ti e o tempo, quanta pele rasgada na incandescência do medo, uma vez, outra vez, e tantas vezes que já nem a linguagem ousa interpretar o gemido da casa.
Abres um livro mas as páginas não te cabem nas mãos. Acendes um cigarro à procura de afogar as sombras e a dolorosa textura dos seus abismos. Por fim levantas-te e, segurando ninhos com o olhar, procuras a luz e o lado mais mitológico da estrada, indiferente ao movimento da estrela já fora do eixo e em rotação acelerada.
Mas, porque nada existe antes de ser tocado, não desistes, segura de haver um campo com trigo maduro à espera de pernoitar no teu corpo magro.