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Finalmente a minha PRIMEIRA foto publicada do vulcão da Islândia! Perdoem a história extremamente longa abaixo, mas são coisas que saem espontaneamente e que para mim fazem parte do todo... ????
"Fénix Renascida" | Vulcão de Fagradalsfjall, Islândia, Setembro 2021
Testemunhar um vulcão activo é uma experiência intemporal, onde a tríade improvável de reverência, espanto e medo atingem o coração em sintonia, rapidamente expandindo estas sensações para o resto do corpo, com todo o ser fundido num estado de intensa rendição.
É suposto querermos escapar destes lugares, já que infelizmente criam destruição em tantas zonas do planeta, mas as condições na Islândia eram basicamente perfeitas para testemunhas em segurança o nascimento de "terra nova", ascendendo do cerne do nosso planeta.
Passei três semanas na Islândia em Julho completamente obcecado com a possibilidade de observar o fluxo de lava hipnotizante, a visão clássica do sangue incandescente a jorras de feridas na crosta terrestre, numa tentativa de atingir um novo balanço de pressão e harmonia.
Tive sucesso parcial nesta minha tentativa, tendo conseguido filmar e fotografar com o drone a caldeira do vulcão em intensa actividade, bem como filmar rios de lava extremamente intensos sob uma luz dura de meio dia, que acabara por derreter parcialmente a parte de baixo do meu drone sobrevivente.
E assim retornei a casa, com a alma cheia de memórias, não só do vulcão mas também de tantas outras paisagens, especialmente as mágicas Terras Altas islandesas, com o seu eterno encanto desértico.
Após 18 horas de voo e escalas extremamente cansativas, a vida normal tomou rapidamente conta da mente, com o trabalho clínico de atendimento aos pacientes mais intenso do que nunca, com múltiplos pedidos vindos de vários lugares, vítimas emocionais de Covid e tantos outros problemas da vida. E assim o ritmo frenético da vida do dia a dia mostrava mais uma vez a sua estranha capacidade de rapidamente transformar os momentos sagrados experienciados dias antes, em memórias surpreendentemente distantes, como se aquele vulcão tivesse ocorrido numa outra vida, noutro tempo, noutra dimensão.
Durante a noite, após cada dia de trabalho intenso, dei por mim a repetir o estranho ritual que tinha aprendido na Islândia: verificar os live feeds de vídeo do vulcão, em busca de novos sinais de actividade, ler os chats recheados de entusiastas da geologia, observar os sismógrafos da zona, imaginar como seria estar lá... Porque é que ainda o fazia? Porque me sentia ainda tão ligado a este lugar, a ponto de sentir a necessidade de o manter vivo para além da viagem?
Entrei entretanto num novo período de férias na primeira quinzena de Setembro, para a qual tinha planeado as minhas primeiras férias não-fotográficas dos últimos 5 anos. Prometi a mim mesmo que ficaria essas duas semanas num local calmo, a ler, meditar, desfrutar o ritmo calmo de uma vida serena, mas mesmo assim não consegui evitar a visita ocasional às novidades sobre o vulcão. Na primeira semana de férias o vulcão entrara num estado de plena dormência, o que significava um potencial final da sua actividade, despertando em mim a sensação ambivalente de intranquilidade e, ao mesmo tempo, conforto, já que não ter escolha é habitualmente mais confortável que ter que escolher.
Os primeiros dias de férias passaram, com o pensamento do potencial regresso a cruzar persistentemente a minha mente, mas o vulcão adormecido retirava qualquer propósito a esta viagem, não fazendo qualquer sentido o impacto financeiro e físico de tal decisão. Decidi então definir um prazo final para decidir se poderia considerar regressar - Domingo, 12 de Setembro - mesmo a meio nas férias, sempre com a esperança de não ter que decidir nada, e apenas utilizar todo o tempo livre para finalmente preparar as imagens nocturnas da Via Láctea feitas durante o Verão, bem como as imagens feitas na Islândia em Julho.
Acontece que toda a minha vida e relação com a Natureza tem sido desde sempre preenchida com experiências de transcendência, surpresa mas também sacríficio considerável, pelo que devia ter adivinhado o que aí vinha... Desta vez não seria excepção, e após 9 dias de adormecimento, eis que o vulcão acordou de forma intensíssíma precisamente a 12 de Setembro!
As 18 horas seguintes transformaram-se num rebuliço imparável de uma viagem nocturna de 300km, desfazer malas de tempo quente, refazer malas para tempo nórdico, verificar, preparar e arrumar toda a parafernália fotográfica, comprar bilhetes de avião quase inexistentes, fazer nova parceria com a empresa de rent-a-car, tratar da interminável papelada relacionada com o Covid, fazer os respectivos testes rápidos, entre tantas outras coisas! Mas conseguimos...
E assim passámos mais uma semana totalmente inesperada na Islândia, a maior parte do tempo estacionados nos parques junto ao vulcão, a gerir o habitual clima extremamente instável, a fazer os voos de drone mais arriscados de sempre, a experienciar uma primeira noite inesquecível de lava imparável mesmo em frente aos nossos olhos, preocupados com fumos tóxicos que ardiam na garganta, sempre com enorme dificuldade em encontrar o caminho de volta à caravana em plena noite.
Estas viagens são habitualmente 90% de transpiração e exaustão, mas os outros 10% são feitos de algo que as palavras não conseguem explicar, neste caso específico uma inefável sensação de comunhão com este lugar vibrante, preenchido de viajantes de todo o mundo, tão fascinados como nós com o poder do planeta. Durante estes dias fomos testemunhas privilegiadas de momentos únicos de transformação do solo que pisamos e tomamos por garantido, testemunhas de uma fénix a renascer mesmo em frente a nós...