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Comovo-me quando chegas até mim. Ainda agora, sentado no chão do meu quarto, os pés frios e o olhar na janela, a pensar as montanhas do Gerês que não se cansam da distância, comovo-me. E tudo aquilo que penso, enquanto o olhar atravessa o mundo, podia ser um poema, talvez mesmo um poema de Amor, feito das minhas mãos e do teu cabelo cansados de ler Álvaro de Campos e a semicerteza de que não somos nada e nunca poderemos querer ser nada. Mas hoje não é dia de agitar palavras, hoje não é dia de morder o verso porque estou só e estando só é como se o quarto estivesse sem ti e o chão não mais amparasse os pés e as montanhas mais altas bocejassem de tédio de tanto as olhar.
E o tempo passa depressa, tu passas ainda mais depressa pelo poema que não escrevi, sabes, tenho mais medo de não te sentir a passar do que ao tempo e a todas as horas escritas num futuro impossível.
Comovo-me quando chegas até mim… mesmo que figura invisível e sem voz.