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Senhor, que sabes quem sou,
sabe lá também o resto:
Sabe lá que o meu protesto
não é idsto que tu vês...
Não é isto...
Nem a facada no teu filho Cristo...
Nem o pranto que tens visto
correr em lava a meus pés...
Não é isto,
nem o somho de Babel...
Nem o bombo que fiz da minha pele...
Nem o Credo num deus que me perdeu...
Foram gestos que passaram
pelo meu corpo, e roubaram
um perfume que julgaram
que era meu...
(...)
Não é isto, nem é nada
que chegue à tua morada
sem a minha assinatura,
que sou eu...
Eu, esta ovelha ranhosa
que remoi silenciosa
a lembrança dolorosa
do pastor que lhe bateu...
(Miguel Torga)