descrição
Athinón*
Em pontas de pés, olhou por cima do ombro e logo lhe pressentiu a vida desde a idade mais antiga do nome – Athinón. Sobre si, o céu do tamanho das estações onde o sangue se torna mais rápido e interrompe a linha que faz avançar o tempo.
Descalçou as sombras e apanhou a estrada à procura dos frutos que amadurecem fora das estações, desde a Ágora até à Acrópole, esse caminho sem idade onde a pele das palavras e a vulgaridade da linguagem são varridas para debaixo dos pés. A estrada inclinava, mas os passos, cada vez mais seguros, já só habitavam a música, as vozes, os aplausos e risos, a respiração suspensa e todas as certezas dentro do Amor. E todo ele parecia levitar sobre a vida que inaugura instantes, essa que ali, mesmo ao lado do mundo, se esquece do frio da cama, do colchão sem molas e do palco de carne e osso onde os poetas trocam os versos por leite e pão.
É, por fim, chegado ao Alto, espantado de vida, indiferente à morte porque só os deuses anunciam milagres com as mãos e em cada poema cabe todo o tempo que o relógio não contou, um tempo incógnito, quase anónimo, tempo próximo da luz, por isso dorme o que ainda não sonhou: a mais perfeita Verdade em monólogo.
* Atenas