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"Vento Gelado"
Corre um dia longo
Pendurado nas mãos, escorrem águas
Que se vão pelas finestras
Corre o rosto no óbito dos dias
Corre os olhos no martírio
das lembranças.
Tantas vezes me perdi
Nos extensos campos
Com os olhos cobertos de tempo...
Que marca o rosto
E aquieta o sorriso
Tantas vezes busquei na luz a paisagem
Por detrás
Do dia
Segue os rumores
De quem vai partir
A gente se vai no tempo que passa.
O vento gelado
Se achega nas peleias que se armam
nas súplicas que envelhecem a calmaria.
Tantas vezes me perdi
Nos extensos campos
Com os olhos cobertos de tempo...
Que marca o rosto
E aquieta o sorriso
Tantas vezes busquei na luz da paisagem
os rumores
de quem vai partir.
O vento gelado
Se achega nas peleias que se armam em lamentos sufocados
Livrai me das porteiras soterradas de solidão
Livrai me
Do silêncio das boca cages
dos alambres consentidos
Livrai me
dos lamentos cansados que seguem a cabresto ruminando
a tarde caliente retesada em agonia.
Para que servem as preces
Sopradas nos ouvidos
Que o escuro da noite
Corroe em cravos de agonia?
Ruge o vento
Batendo cancelas
Ruge a alma suja de pó
No ocaso do tempo, perdido
Nas despedidas.
Campo, campo fica campo...
Que seja breve a partida
Meu vou com sonhos estropiados,
Me vou
Meu sangue a jorrar
Pelas artérias
Da cidade.
Não sou
Aragano, o cheiro da terra
me segue nessas primeiras luzes que invadem meu rosto,
Vou adelante paisano de olhos voltados pro interior,
Vou marcando caminho
Sei por onde voltar
Vou chegar antes das chuvas
Entrar de olhos atentos
nos rostos gelados que encurtam a vida e assombram os fantasmas que trago lá da fronteira.
Departamento Rivera-UY
16.09.2017