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Já não escuto a respiração da terra e até o sol deixou de fazer riscas coloridas entre os fios do teu cabelo. Sabes, escondi o relógio na gaveta, talvez para não ter de contar o tempo e não querer saber que os bolsos das calças, dantes
cheios de mãos, estão cada vez mais vazios. Hoje morro-me um pouco mais, morro-me devagar, sem pressas, e mesmo se a minha voz te procura, arrefeço mais do que o corpo sem roupa sob luas de espanto.
Quando adormeço, peço-te que me reconheças em pequenas histórias feitas de palavras escritas com os lábios, de versos espalhados sobre a pele, de jantares sem mesa posta, que me reconheças em pequenas histórias de virgindade perdida sobre mantas de um frio tão gentil como o da solidão das aves, de abraços onde apenas cabíamos os dois…
Depois, acordo, e de novo deixo de escutar a respiração da terra. Talvez agora entendas por que já não consigo escrever