descrição
Nos minutos que antecedem a explosão do Sol, sustemos a respiração no final de cada ciclo, e tentamos descobrir o que resta de nós, naqueles momento breves em que os pulmões param. Nesse fugaz instante a quietude corporal é plena, as mãos suspendem o tremor, a mente encontra um espaço de clareza pouco habitual, e o corpo corre apressado para nos dizer que é necessário retomar a sofreguidão de oxigénio, se assim o permitirmos...
Ousamos não atender à necessidade visceral de sobrevivência, congelamos os músculos do tórax, e fazemos as pazes com esta vontade primordial de conhecer os limites do corpo, testando-o para deslizar nas suas fronteiras, tentando compreender os aspectos mais profundos da natureza da mente que o habita.
E assim se fractura a cadência natural e ilusoriamente obrigatória das coisas, colocando o tempo ao nosso comando, eliminando o seu curso implacável e desafiando a sua angústia.
Retomamos a respiração, mas desta vez conscientes de que algo fundamentalmente mudou. Descobrimos que por detrás desta interminável pulsão de sobrevivência e medo, existe na sua base uma torrente de pensamentos e emoções desagregadas que esmagam a fruição de cada momento. Respiramos agora profundamente e de forma consciente, dando a cada ciclo o seu tempo de descoberta, vislumbrando finalmente um pouco de paz temporária.
Quando paramos, escutamos por dentro, e quando escutamos por dentro, voltamos a fazer parte integrante e síncrona do que está fora. Nos minutos que antecedem a explosão do Sol, pisamos finalmente a plataforma de lançamento dos sonhos que está à nossa frente, encontramos o silêncio que habita a respiração, e testemunhamos e colhemos estes irrepetíveis momentos.
Local: Ponta da Piedade, Portugal
Sony a7R + Laowa 12mm f2.0 | 30 segundos | ISO 200 | f/11 | 4 stops full ND Nisi | 4 stops Medium Grad Nisi | Tripé FLM