descrição
As cidades descem sobre os homens, chegam de mansinho, quase sem darmos por isso, primeiro um rosto anónimo, um rosto apenas, depois um sorriso lascivo enquanto nos murmuram ao ouvido o nome de cada estrela nos céus de junho. E os homens, já de olhos fechados, a sonhar com a grande viagem do Amor, procuram lábios, mas apenas encontram a lâmina que rasga o ventre, tornando o osso no estandarte de um lugar que já foi seu.
As cidades não têm piedade e enchem as bocas dos homens com palavras que mentem e roubam silêncios e entram, seguras, na luz que anoitece nos corpos.
E eu, homem perdido entre tantos homens, olho o espelho e, em vez de olhos femininos, encontro a vertigem de uma máquina a rasgar a pele das nuvens, sofregamente: que mania a minha de chegar sempre tarde aos lugares onde não me esperam...